Tu me traiste (resposta para "Eu te traí" de Oliveira Prazeres)
"Mor hoje eu te traí. Não houve razão aparente
para tal, aliás nunca houve mesmo motivo algum para um ato tão vergonhoso,
confesso com tanta vergonha essa minha pouca vergonha" Foram essas as
palavras que rasgaram meu peito e partiram meu coração. Quando li, confesso que
não quis acreditar, meu cérebro não processava tal informação, então, com os
olhos cheios de águas cristalinas brilhantes e salgadas e o coração com aquela
esperança que se negava a morrer percorri novamente as linhas amarelas do
diário cor de rosa (nessa hora parecia preto para mim) para ver se havia lido
errado, mas não havia. Não sei exatamente quantas vezes percorri aquelas linhas
esperando que as letras mudassem, acho que foram mais de sete vezes, queria
poder voltar no tempo, não ter aberto o diário, ter ido a festa ou num futuro
drasticamente distante "não ter te conhecido e te amado".
Lembro daquela noite. Aí se o Roberto tivesse aceitado
trocar o turno comigo!!! Não pude ir a festa então enviei um buquê com lírios
brancos (tuas flores preferidas) e pedi que te divertisses que em três dias
estaria em casa e compensaria minha ausência. Na manhã seguinte liguei para ti
e tu falavas soluçando perguntei o que era, mas tu simplesmente choravas e
pediste para prometer que te amaria sempre e para sempre, é claro que eu
prometi sem mesmo ser necessário porque eu amava-te com o coração a alma e a
vida, naquela altura não entendi o porquê, mas agora...! Agora dói demais
enxergar a verdade, é como se de repente tivessem arrancado do meu peito o coração
e jogado numa vala suja qualquer e essa dor sufoca dentro do peito, tira o
fôlego e corta-me a respiração.
Como havia prometido três dias depois daquela noite eu
estava em casa e tudo que eu queria era correr para os teus braços quentes e
sentir-te envolvendo-me por completo (isso fazia-me sentir em casa), mas para
minha surpresa tu não me envolveste como sempre fazias, teu abraço estava mais
frio que a água do oceano que me fez companhia nos últimos dias, sabia que
alguma coisa havia acontecido, mas sempre que eu perguntasse tu dizias que não
tinhas nada, eu amava-te e por isso acreditei em ti.
Durante várias noite ouvi-te chorar baixinho,
soluçavas enquanto escrevias algo naquele maldito diário que afogava tuas
lágrimas, queria consolar-te, mas sabia que não adiantaria pois não dirias o
que tinhas, então eu ficava aí a fingir que dormia enquanto choravas, até que
não aguentei e numa noite depois de adormeceres decidi ver o que tanto te
afligia ao ponto de tirar teu sono e arrancar sempre lágrimas dos teus olhos
cor de âmbar (sei que não se lê o diário de outra pessoa, mas foi a única
maneira que achei para poder ajudar-te) e foi naquele momento, naquele pequeno
instante em que meu mundo desabou, ainda tentei resistir mas foi em vão, o tiro
veio de onde eu menos esperava e acertou onde mais dói, tu juraste que serias
minha e de mais ninguém para a vida inteira e além dela, uma vez disseste que
amar alguém é entregar o comando da nossa vida nessa pessoa e deixar ela
apertar os botões no seu ritmo, e eu deixei... deixei meu coração em tuas mãos
e tu o partiste da pior maneira possível e eu não posso viver com o coração
partido, então aqui enquanto escrevo vou arrancando os pedaços do meu
peito e deixarei aqui embrulhado com esses pedaços de papel.
Estou a ir para o mar gelado sem vontade de voltar
para casa, à propósito já não tenho casa pois eu vivia no aconchego do teu
abraço e no afago dos teus beijos, eras meu porto seguro e transformaste-te em
areia movediça. Tu me traíste e partiste meu coração, então estou a partir
deixando ele contigo e se algum dia conseguires consertar e juntar esses
pedaços que sobraram, aí sim, hei-de voltar e ancorar meu barco no meu porto
seguro.
Autora: Bereznick Rafael
Sem comentários:
Publicar um comentário