Ele foi
concebido entre os gritos e gemidos de um casal que não fazia amor, mas
vingava-se da dor de terem sido traídos... Juntos pelo motivo errado, quem
diria que este casal de namorados, seria abençoado com a presença de um novo
ser.
Mariana estava
concebida, chorava dia e noite mas já estava decidida, nada a separaria do anjo
que carregava no ventre.
Para
Carlos, foi um golpe no peito e na alma, aquela relação que só era boa na cama,
um filho agora, não fazia parte do programa. Pediu para
que ela abortasse, mas nada adiantou. Disse que não queria o filho, praguejou,
ameaçou, mas o amor que Mariana já nutria pelo menino que crescia no seu ventre
só aumentou. Por isso
Carlos decidiu ir embora, abandonando aquela que nesta hora, virou uma grávida
doente. Grávida sem terminar a escola, mãe solteira, mal falada no bairro,
Mariana não aguentou a pressão, deu uma crise e não mais saiu do hospital.
Chegando o
dia principal, tendo que escolher, preferiu dar a vida ao seu filho e a própria
vida renunciar... E veio ao
mundo o azarado, culpado sem ter pecado, acusado sem ter cometido, envergonhado
sem ter vivenciado, os acontecimentos que deram origem a sua vida.
Azarado,
assim ele era chamado, como se fosse o nome mais normal do mundo. Azarado por
ter sido concebido, azarado por ter nascido e mais ainda por ter sobrevivido a
situação que matou sua mãe. Mas mesmo
assim muito sorria, era uma criança inocente que não via maldade, precoce
demais para a própria idade.
Foi
registado pelos seus avós, como Carlos Vigário da Silva André, é engraçado que
a este bebé, foi dado o nome daquele que um dia o abandonou.
Azarado
cresceu, estudou, mas mantinha-se isolado, não fazia amigos, era complexado,
achava-se inferior aos coleguinhas pois sentia que ninguém o amava. Só que nem
isso ofuscava, a sua mente brilhante e seu sonho de mudar o mundo. Lutava por
tudo que queria, mesmo ouvindo sempre em sua mente, a voz da sua avó que dizia,
que de nada adiantaria, pois por toda vida pagaria, pela morte de sua mãe.
E quando em
seu percurso algum mal o abalava, azarado então lembrava de todo inicio,
daquela infância conturbada, de sua mãe que depositou nele a esperança de que
de alguma forma fosse feita a diferença. E era nestes momentos que sentia, que
nada o faria parar, jamais deixaria de lutar para que outras crianças não
passassem por tudo aquilo que a vida o fez passar.
Por isso continuou, de cabeça erguida estudou,
pediu bolsa, esperou, mas não desistiu do sonho de ser mais, muito mais do que
uma criança sem futuro.
Licenciado
em Medicina, aquela criança pequenina, é hoje o dono do maior hospital de
África, onde todo tipo de operações para mães e bebês é feita de graça.
Azarado
espalha sorte para mais de cem famílias todos os santos dias.
Dr. Carlos
Vigário da Silva André, é dos médicos africanos mais respeitado a nível
mundial; e em entrevista lhe foi questionado:
— É verdade
que na infância chamavam-no azarado? — Do que se riu e retorquiu:
— Sim, um
dia eu fui o azarado mas hoje em dia sem que eu percebesse o meu nome foi
mudado, meus familiares chamam-me abençoado e quando eu passo la no bairro, os
vizinhos apenas comentam:
"Olhem,
olhem, eis ai, o fazedor da própria história!"
Autora: Suely Soares
👌
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