Põe-te sentado enquanto te ris. Ficas
lindo, e charmoso também. Começa a ser um ritual, ficar aqui à
janela logo de manhã a apreciar-te a fumar. Sabe tão bem!
Senta-te, ficas mais seguro. Tens um jeito
tão desinibido com tudo, que me tira do sério. A vida é uma corda, uma corda bamba. Tudo
o que fizeres, tem de ser bem estudado e articulado; sabes? Sempre tive medo de
me entregar, quando te conheci, e tenho medo que esta relação de
"saidinhas e escapatórias" não dê em nada. Tenho medo, sinto que
estou numa corda bamba. Conheceste-me como uma mulher desinibida. Eu sei, mas lá no fundo há um grande medo de perder tudo o que conquistei e
tenho conquistado. Por trás dessa capa forte há uma mulher vencida pelo medo, e
que se sente ameaçada pela própria vida.
Quando comecei a trabalhar como gerente,
sentia aquele medo total, a corda parecia que balançava sem parar... como se a
vida me estivesse a dizer a todo o momento: "vais cair, não vai dar
certo. Se falhares em alguma coisa, já foste!"
E assim vou vivendo eu, que
nem um robô, com os braços abertos como se me estivesse a preparar para
levantar voo, tentando equilibrar-me nessa corda que é para mim tão
aterrorizadora.
É fácil conquistar, difícil é manter.
Sabes? Comigo também é assim. Em tudo. Tudo o que se mantêm com o mesmo nível
ao qual foi conquistado, é o que vale a pena.
Agora senta-te. Vá! Por favor, não quero
correr riscos, e nem te ver a corrê-los.
Onde estás tu?
Bastou eu olhar para baixo e saíste da
janela.
Eu sei que estás aí, responde ou eu desligo a chamada .
-Aqui estou. Olha para mim. Agora já não
me vês na janela, estou aqui diante dos teus olhos, a olhar para os teus lindos
lábios que conversam entre si e fazem um belo desenho em coração. Já até
conheço o ângulo da tua boca de cor e salteado. Olha bem para mim. Corda bamba? Então
dança comigo e vamos seguir o ritmo das ondulações desta corda. Vamos viver,
viver sem vírgulas ou reticências. Não precisas de viver entre linhas, não
estás num filme. Ainda não estás... um dia escrevo, hoje não. Podes saltar de
parágrafo a parágrafo, só não saltes um dia, não deixes de viver um único dia -
Viver - Sabes o que é isso? Ou só conheces a palavra?
Mas que ridículo seria o ser humano se
nunca pudesse errar. Que ridícula seria a vida se o ser humano nunca pudesse
falhar! Se não estiveres desinibida, as
coisas nunca irão fluir, tens de ser tu a todo momento, viver sem roteiros, não
estamos num filme, repito. Pega na minha mão. Sente, és real e é humano errar.
Não tens de te preparar para ir comprar o
pão como sempre fazes, sê tu, não me vais perder.
Eu adoro ver-te despenteada, quando sais
de roupão para o banho. Sim, tenho te visto pela janela. É uma das tuas versões
que mais gosto. Quando estás simples e a agir naturalmente pensando que ninguém
te está a olhar. Pareces uma deusa. De longe consigo até reparar na delicadeza
do teu andar.
Que belo andar, por vezes até fico horas e
horas a te apreciar, e sem dar pelo tempo passar, pensando que estou a assistir
algum desfile, mas só que com uma modelo.
Vês? Essas pequenas coisas têm feito eu
admirar-te cada vez mais. O amor não nasce no encontro detalhadamente
planejado, na hora em que combinamos nos ver, nem naquela linda
festa onde todos vão vestidos a rigor e tu te sobressais.
O amor nasce no teu jeito meigo e
atrapalhado de falar, naquele encontro inesperado no elevador , naquele sorriso
antes do beijo, naquele abraço que fala por nós e faz o tempo parar. As boas coisas são construídas com
pequenos detalhes, pequenos gestos. O trabalhador não impressiona por ter
sempre uma postura séria, mas sim pelos seus pequenos gestos que
ninguém mais faz e o tornam único... e tu és uma ótima gerente não te preciso detalhar.
Vive a vida, esquece a corda. Ela só está
bamba porque tu tens tremido por cima dela.
Autora: Vanessa Neto
Sem comentários:
Publicar um comentário