Autora: Aurea Assíduo
Já é manhã; O sol raiou, os pássaros
cantaram e já se fez dia. Aqui dentro, porém, o denso véu negro permanece e o
escuro é cada vez mais profundo, como se não existisse dia e nunca se
tivesse realizado a divisão entre a luz e as trevas. É como se a luz se
recusasse a habitar dentro de mim e o mundo se tivesse esquecido literalmente
de mim. Por isso, criei o meu refúgio nas trevas e aprendi a fazer parte
do escuro. A minha mente tornou-se o meu lugar favorito, as minhas lágrimas
fizeram a gentileza de criar um oceano ao meu redor, ganhei alma de artista e
aprendi a viver confortável na solidão.
Hoje gosto de ficar assim: quieta,
isolada, sem vontade de falar ou interagir com alguém. Gosto de apreciar o
silêncio e encarar o vazio. Embora algumas pessoas digam que tenho talento para
sofrer, eu tenho a certeza de que a minha resguarda não é sofrimento. Ela é apenas
uma necessidade constante de tentar entender-me e de perceber o por quê de ver
o que mais ninguém vê.
Sinto-me só quando estou rodeada pela
multidão, e completa quando estou no meio do nada. Sinto essa necessidade de
procurar lógicas e verdades no silêncio e procurar complexidade no vazio,
porque ele sempre me pareceu ser mais completo que o universo repleto de
pessoas que simplesmente existem e nunca se questionam o motivo da sua
existência. Já eu, questiono-me e procuro explicações que só encontrarei
enquanto viver na sombra do silêncio.
Sem comentários:
Publicar um comentário