Autora: Bereznick Rafael
Mãe! É com muito pesar que me despeço de ti e, do fundo
da minha desolada alma peço-te as minhas sinceras desculpas por estar a fazê-lo
por esse meio, talvez essa seja a única forma para diminuir o peso que terá
sobre ti, mas acontece que eu não consigo lutar mais… simplesmente não consigo, mãe. Eu fui forte durante muito tempo, mesmo quando minhas forças pareciam
esgotadas eu tentava a ser forte, eu pensava em ti e na dor que a minha perda poderia
causar em ti, porém agora eu não consigo mais.
Mãe, durante muito tempo fui vítima de mim mesma, vítima
das tenebrosas circunstâncias da vida que me empurram nessa irreversível
condição e deixaram-me nessa maldita depressão, essa horrível doença que por
muitos é vista como um simples capricho, uma forma de aparecer, mas ela é real
mãe, tão real que acabou comigo.
No princípio eu lutava, mãe tu sabes que eu não me abato
com facilidade, eu enfrentava essa doença de cabeça erguida… Enfrentava não, eu
ignorava a existência dela, essa era a minha melhor tática de defesa, se alguma
coisa não existe não tem como ferir-me. Mas com o passar do tempo eu percebi
que estava enganada, ela existia e quanto mais eu a ignorava mais espaço ela
ganhava dentro de mim.
Lembras daquela noite…? Tudo começou naquela noite mãe,
começou com aquele maldito acidente que levou o homem da minha vida e a linda
princesa que crescia dentro de mim. Desde esse dia minha vida transformou-se em
um campo de batalhas, eu sorria para todo mundo e dizia que estava bem ou que
ao menos ficaria bem, mas eu nunca estive e acho que não estarei enquanto não os tiver de volta, desde esse dia eu nunca mais fui a mesma… Lentamente um vazio
foi preenchendo meu coração e uma melancolia apossou-se da minha alma, eu
tentei ser forte, eu juro que tentei lutar contra, mas a dor enraizava-se em
mim a cada dia e cada dia era mais difícil lutar contra ela até que finalmente
eu senti que já não tinha forças, não tinha mais como lutar contra aquela
angustia que me consumia, aquela incerteza de não saber se amanhã estaria pior,
então eu parei de lutar mãe e hoje eu decidi entregar-me por completa à essa
dor.
Ah mãe! Não sabes como esses dois anos foram difíceis para
mim, eu entrei numa luta impossível de ganhar e acho que desde o princípio eu
já sabia que o fim seria esse, mas tentava enganar-me ao vestir a capa da
super-mulher que tenta melhorar tudo lutando como uma depressão, que sorria
mesmo com a alma em pedaços, mas agora eu não posso mais, simplesmente eu não
posso mãe e ainda que pudesse, eu não quero nem aguento mais. Já está decidido,
eu vou fechar meus olhos e dormir meu sono profundo. Não fique preocupada mãe,
eu ficarei bem, eu sei que encontrarei o homem da minha vida e a minha princesa
esperando por mim lá no outro lado.
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