Hoje celebramos as histórias e estórias, as
grandes lutas, as memoráveis vitórias, os contos a volta da fogueira, as
brincadeiras nas noites em que faltou energia, as marcas (in)visíveis que nos
deixou a guerra, as sentadas familiares, as conversas mirabolantes, a
vizinhança que se torna de casa, a ousadia de quinze entre milhões, aos
desafios fora e dentro de nós.
Hoje
celebramos a nossa gente, peculiar na sua natureza, feliz na sua própria
tristeza.
Ao silêncio
e aos que foram silenciados.
Aos que
falam e pouco são escutados.
Aos que têm
de sobra e aos que deles nada sobra.
Celebramos
aos que esperam por salvação e aos que se proclamam heróis.
Celebramos a
gasosa... que bebem os que têm menos sede... que condenamos mas alimentamos...
a hipocrisia nas nossas vozes que anunciam mudança sem provar o sabor do poder.
as criticas sem vivência. aos julgamentos sem conhecimento.
Ao doce
sabor de ser quem somos.
Nesta hora
celebramos a criatividade, perseverança e diversa unidade. Celebramo-nos, a nós
e nós mesmo. Nós que partimos, nós que caminhamos e nós que havemos de
voltar...a viver.
Faltou
energia. Ouviu-se a voz da vizinha. Vamos brincar. Bicá bidón. Eu não fiquei,
ficaste tu. Banana verde, banana amadureceu.
Escondemo-nos
todos. Procuraste por nós. Encontraste os outros. Quando viraste para o lado,
eu corri do meu esconderijo. Os outros torciam por mim, para que corresse o
mais rápido possível. Consegui! Biquei o bidón.
— Bicáááá!
A cidade
ouviu o grito, do meu tão confuso, porém esperado, momento. Tu também sorriste,
embora aborrecido. Abraçamo-nos todos e cantamos à alegria de não sermos ainda
mais velhos.
—Façam ainda
uma roda. — Pediste enquanto puxavas as nossas mãos e te desfazias do
aborrecimento.
Obedecemos,
sem por isso não acharmos inferiores. Quando faltava energia éramos todos
iguais.
"Salalé
três três,
Salalé três
três,
É mana
Zinha, chuta,
É chuta a
bola, chuta,
É na baliza,
Chuta,
Do São
Domingo, Chuta,
Fazer
barraca, Chuta,
Kalinguindó,
Kalinguidó, Kalinguidó,
Chuta!!!!!!!!!!!!
É na baliza,
é na baliza Golo!''
Do outro
lado do quintal, estavam os mais velhos, com velas acesas em orações ou em
conversas de murmúrios. A vizinha São apareceu com um tabuleiro cheio de
galetes e nos deu para comermos. Afinal era dia 25 de Janeiro de 2016, dia do
sítio onde moramos.
Os mais
velhos só estavam a falar baixo e a ouvir rádio de pilhas. Nós comemos os
galetes e fizemos planos para quando crescermos. Depois a luz veio.
Sem comentários:
Publicar um comentário