Autor: Geraldo Gomes
Lentamente a melodia suspende no ar ao meu redor. Lentamente surge
em mim um arrepio de desejo, um calafrio que empalidece a alma mas esquenta a
face. A minha mão que toca a tua pedindo a dança. Tu me amas? Flores crescem
nos meus olhos a cada vez que te vejo. Se é doença, já fui contagiada. Se é
matéria de morte, que se preocupem apenas com o meu corpo: minha alma dança
branca e leve contigo.
O que quero me ultrapassa, agora eu te peço um beijo: com o olhar,
te peço um beijo. E é como se a melodia se abafasse entre a maciez dos teus
lábios, desse toque tão íntimo e delicado, e eu a sentisse reverberar nos meus.
Meus olhos fechados são abertos ao Paraíso, e nós nus somos os primeiros a
amar. Essa natureza que levita os pesos da vida — essa natureza é o que sinto
ao te tocar.
Estou enfeitiçada; o que é que me desabrocha o coração? Se for o
teu beijo, esse teu toque que me relaxa as pernas, eu o eternizo. Eu quero que
o futuro se limite a este momento: que não haja mais o que viver enquanto a
felicidade permanecer apenas nesse momento. O amanhã já me dói, já é uma
lembrança de tortura. Agora eu quero o amor que tens para mim. Tu me amas? Se
este sorriso não for de amor, que não exista outro tipo de sorriso: o mundo
inteiro ama quando você sorri. Os pássaros que em revoada sibilam melodias já
conhecem esse teu sorriso; é o sorriso primeiro que o mundo encontra ao sentir
a luz branda do sol acariciar a pele da terra. Teu sorriso é de vida, é de
amor, e eu estou enfeitiçada.
A música que vibra agora é somente o meu peito retumbando em
deslumbre — se você ouvi-la, então, é porque me amas.
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