Autora: Suely Soares
''Não é o momento de
dizer que te amo, eu não te quero magoar, quero que fiques, mas me vou odiar se
ficares...''
Digo frases sem sentido, para ver se confundo a mente dela,
na verdade nem eu sei se quero que ela fique, mas em todo caso seria bom que
ela ficasse pelo menos até eu poder dizer se quero que ela vá ou fique. Eu não
sei, nunca soube e disso ela sempre soube. Mas mesmo sabendo, sempre me pediu
para que lhe desse uma certeza, para que eu dissesse com firmeza se a quero por
perto ou longe de vez.
Desta vez, parecia até real, ela estava muito chateada e com
um olhar de quem já sabia o que fazer, abriu a porta e disse:
— Chega! já arrumei tudo o que é meu! Tu não me entregas a
sorte mas também não me reténs, não me dizes vai muito menos vem, não me dás um
anel mas dás-me abraços, e eu tonta vou
seguindo os teus passos, buscando neles um traço da verdade que quero ouvir,
mas que tu não me consegues dizer...
Virou-se e deu o primeiro passo, involuntariamente seguro-a
pelo braço, digo para ter calma, meio sem esperança pois nunca a tinha visto daquele
jeito. Mas, incrivelmente, só este pequeno gesto surte efeitos de um modo voraz
e ela dá três passos para trás, senta na cama e olha para a porta, como se
estivesse a espera de uma resposta que a fizesse deitar e talvez respirar,
mais aliviada.
Penso, mas a minha mente diz-me que não lhe posso mentir, não
quero ser player, nem mesmo fingir, mas tenho aqui uma chance de mantê-la junto
a mim, do meu jeito, com todo respeito, mas sem nenhum compromisso ao certo.
Vivemos debaixo do mesmo teto, é ela que faz de mim o homem que sou, desde o
que como, ao que visto, mas gosto de saber que apesar disso, eu sou o dono do
meu amanhã. Então digo:
— Não te direi ''fica'', pois assumo que sou egoísta. Sou um nada que é simplesmente um pouco menos nada por te ter aqui, e apesar disto não te
digo ''fica'', pois tens razão quando dizes que eu não sei fazer planos. Adoro ser livre e apesar
de te quereres presa, eu quero-te livre também. Não me perdoaria se pedisse que
ficasses e mais uma vez por esta porta entrasses com este ar tão infeliz.
Sendo assim digo-te ''faz'', o que te achares capaz, o que o teu
coração disser... Sem ti eu vou sobreviver, um pouco mais insignificante, mas
pode ser. Não é o momento de
dizer que te amo, eu não te quero magoar. Quero que fiques, mas vou me odiar se
ficares.
Vou e abro a porta triunfante, pois sei que com tudo o que
disse a pouco, ela fica. Ah se fica! Ela começa a tirar a roupa, como se esta fosse a melhor
maneira de dizer que não vai embora, ou quem sabe uma despedida da energia que
nos dá a vida e nós dois sabemos bem. Toco-a e ela geme, beijo-a e ela treme,
quando a penetro ela lacrimeja, e sem mais palavras, ela fica!
Com um carinho que nunca tive antes, eu próprio desarrumei a
sua mala, e dormimos abraçados. Prefiro tê-la ao meu lado, enquanto eu não sei
o que quero...
Profundo
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