Autora: Suely Soares

6h da manhã. Ele é acordado pelo relógio
biológico, que só assim se tornou por causa dela. Era sempre ela, que mesmo sem
ter motivos para acordar tão cedo, acordava-o no mesmo horário com o pequeno
almoço já na mesa e um sorriso que iluminava o quarto todo.
E agora, sem ela,
sem emprego e sem saber o que fazer, ele pedia a Deus que o levasse logo ao
encontro dela, para que pudesse conta-la todas as suas aflições, que ela sempre
sabia como solucionar, fosse uma calça sem bainha ou uma decisão a tomar na
empresa, ela sempre foi tão sensata e tinha sempre a palavra exacta, que o
fazia ter a certeza que um enorme problema era afinal algo tão simples de se
resolver.
Todos os dias ao acordar, ele chorava por ter acordado, pois acordar
era o mesmo que lembrar que ela já não estava para dar-lhe um beijo e ir fazer
as compras. Oh! compras! Nunca mais havia comprado nada, só ela sabia
comprar... Já não entrava na internet, porque só conseguia pesquisar as mil e
uma maneiras de suicídio...
Nunca mais tinha ido ao cinema, só ela sabia
escolher os filmes que os faziam rir, relaxar e por fim reflectir ''são estes os 3 R ́s
que nos devem guiar na escolha de um filme'' dizia ela. Mas ele não aprendeu!
Sem ela agora, era mais fácil não acordar e ficar simplesmente adormecido a
sonhar com o dia em que Deus permitiria o seu reencontro. Porque não havia mais
vida, nada mais fazia sentido. Só lembrava das vezes que ela dizia aos risos, "se eu morrer, meu marido
morre a seguir, este aqui não vive sem mim"
E não vivia. E não queria viver...
Sentia que já não era aquele homem forte, pois não tinha coragem nem para
apressar a própria morte.
"Como
Romeu e Julieta, somos eu e meu marido. O dia em que eu me for, o André dará um
jeito de ir ter comigo"
E pedia a Deus todos os dias para que aquele
fosse o último dia que vivia longe de sua amada, mas o dia seguinte chegava e
ele sempre acordava e logo então lembrava, que catarina ali já não estava,
nunca mais estaria. Já não gritaria: ''Oh! Homem, não me deixes a toalha
molhada por cima da cama!''
Como viver sem ela que era metade do seu ser?
Um dia depois de mais de seis meses, André decidiu arrumar o quarto, estava uma
bagunça, exactamente como catarina detestaria ver. E espantou-se quando viu, na
caixinha das bijuterias dela, um papelinho que dizia: "Este
cancro tem me vencido e insiste em afastar-me de ti, mas se eu morrer, meu
marido, vive o dobro, vive por ti e por mim."
Naquele momento parou,
atirou-se na cama e chorou, chorou tanto que adormeceu.
Quando acordou era um novo André, abriu as
janelas, limpou a casa, pediu até uma pizza, não aquela que era a preferida de
sua Caty, mas um sabor novo que nem mesmo ele havia alguma vez experimentado.
Desfez-se das roupas velhas, decididamente compraria roupas novas, olhava com
outros olhos para as flores do jardim do vizinho, que estava mesmo a sua
frente, decidiu ir apresentar-se ao trabalho e deitou os remédios de depressão. Nunca mais esqueceria Catarina, mas
acima de tudo nunca mais esqueceria de si mesmo!
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