Autora: Bereznick Rafael
Sozinha, triste
e desolada, vejo-me aqui sem ter escapatória, dessa vez o meu coração está
completamente partido, acho que depois dessa já não há concerto possível. Fico
repetindo os flashbacks na minha mente e percebo que estava tudo claro desde o
início, tu sempre tentaste mostrar-me quem eras na verdade e eu evitava
enxergar-te como realmente eras... Ah! eu e essa minha mania de fantasiar a
realidade!
Lembro-me a
primeira vez em que aconteceu, foi por uma mensagem daquela menina que dizias
ser tua colega do curso, eu perguntei o que havia entre vocês, foi aí que tudo
começou. Tu foste tomado por uma fúria e sem hesitar arremessaste um copo
contra mim, os primeiros sinais apareceram e eu ignorei. Tentei convencer-me de
que foi algo impensado, uma reação inconsciente e que não voltaria a acontecer,
tu te desculpaste e eu disse que te amava.
Mas o tempo
passou, as agressões foram tornando-se frequentes e quase sem motivos. Tu
gritavas, ofendias-me e arremessavas tudo o que pudesses contra mim, e eu... eu
sempre tentava justificar, sempre achava uma maneira de culpar-me, cobria os
hematomas com alguns quilogramas de maquilhagem e seguia a minha vida ignorando
todos aqueles sinais. Dia após dia fui evitando as coisas que te deixavam
chateado e te tiravam o controlo, tornei-te o centro da minha vida e passei a
ser a pessoa que precisavas ter ao teu lado, mas ainda assim tu não te sentias satisfeito e achavas sempre alguma razão para quebrar algum objecto em mim.
E então chegou
o dia de hoje, lembro que foi por uma mensagem da operadora, mas tu não sabias
que era da operadora e nem deixaste explicar. Foi suficiente para quebrares
tudo novamente. Tudo! Inclusive meu coração que já se desgastava com o tempo de
maus tratos. Esse foi o único dia em que eu tentei defender-me, eu já não podia
suportar mais! De tantos pontapés que recebi, eu sentia como se todos os meus
ossos estivessem partidos. Com algum esforço juntei minhas forças e peguei a
primeira coisa que consegui alcançar, era um copo, um copo igual ao que
arremessaste contra mim a primeira vez, um copo relativamente menor do que tudo
que já jogaste contra mim, mas foi esse copo, esse único copo que usei numa
única tentativa de defesa que tirou-te a vida e eu encontro-me aqui sentada ao
lado do teu corpo e culpando-me mais uma vez, dessa vez meu coração está
completamente partido e sei que depois disso não há concerto possível.
E no final de
tudo isso, a dor e a culpa tomam conta de mim, eu poderia ter evitado tudo isso
se não ignorasse aquele primeiro sinal. Eu poderia ter feito diferente e, esses
sentimentos me assolam, o pior de tudo é que não perdi só a ti, perdi a mim
também... e a dor dessa última perda é devastadora.
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