Autora: Laine Ferreira
Confesso a vocês que eu estava cansada. Todos os dias
eram sempre iguais, me matava o diminutivo, esses tantos “inhos” e “inhas”: o
empreguinho, o salariozinho, o namoradinho, a casinha, os casinhos, as
festinhas. Minha alma ansiava por superlativos, por umas gotas de caos e
diversão, sair sem hora de voltar, morrer de paixão, conversar sem ver a hora
passar e acordar cheia de energia para criar. Acordei assim: Esganada, fatigada
das migalhas de viver. Que fome... de vida, que sede... de mudança.
Tomei coragem e fugi. Pode parecer contradição, mas a
fuga foi a coisa mais corajosa que fiz na vida. Abandonei todos os meus anões
de estimação (os “inhos”) e virei “ão”, fui transição, transformação, super
nova em ebulição. Estava louca para agarrar o mundo e recuperar todos os
segundos que perdi tentando agradar cada pessoa que conheci. Fui tantas outras
mulheres que precisei me perder para me encontrar – lá no fundo, soterrada
entre as bobagens que guardava no coração, cheio de sonhos mumificados, dores
guardadas, pedaços que não se encaixavam. Havia tanto o que jogar fora.
Nesse cansaço da vidinha conheci ele, o bater de asas do efeito borboleta que virou furacão, virou minha cabeça, virou minha vida do avesso
e chacoalhou todo o dia-a-dia até me quebrar em pedaços. Foi amor desde o primeiro instante, sei lá,
quando é de verdade a gente sente, é diferente. É um olhar que mergulha dentro
de você, e então podes sentir que alguém te viu de verdade pela primeira vez na
vida. Eu tinha tantas teorias e definições do amor, e aquilo que vivi
contrariou tudo que li nos livros e revistas. Porcaria de romantismo barato! Pode
parecer maravilhoso, mas na verdade é assustador saber que serias capaz de (quase)
tudo por um semidesconhecido. Isso deixa qualquer um desestabilizado, confuso,
bipolar.
Tive muita culpa no desfecho de tudo. Naquela época eu
era uma armadilha andarilha, buscava qualquer
tumulto que fizesse o coração bater mais forte, queria dopamina em doses
desumanas, mas aquilo foi mais do que pude suportar. Ele era overdose, tão
intenso, tão livre, que presa nos meus velhos conceitos e regras (aqueles
mesmos dos quais fugi) não consegui ser madura o suficiente, desapegada e
segura o bastante. Foram muitas recaídas sentindo falta da segurança dos dias
comuns. Simplesmente não deu. Eu via nosso amor escorrendo entre meus dedos,
mas não tinha idéia do que fazer para deter a caminhada em sentidos contrários.
Ele era tudo que eu queria ser e procurava, mas eu não era o que ele precisava – ainda. Eu seria em breve, mas não
era justo pedir para ele esperar sentado no olho do furacão. Éramos o sonho um
do outro só que em noites diferentes.
Decidi deixá-lo ir antes que não houvesse amor para
recomeçar, e esse era o meu plano, fazer a minha jornada sozinha, viver meus
sonhos e experiências para ter mais do que uma alma esfomeada para oferecer,
não queria ser um zumbi me alimentando dos pedaços dele. Sofri, não tenho
vergonha nenhuma de admitir que meus olhos viraram cascatas. Me catei do chão
como pude e montei outra com os cacos que sobraram, e devo admitir que essa
outra – o meu novo eu, ficou bem melhor que o anterior. Sério, agora sim posso
dizer: Essa sou eu. Aprendi ser singular para poder um dia me encaixar no
plural. Consegui ser feliz sozinha, e vivo muito bem obrigada.
Ainda não sei bem quando será, mas estou pronta para
reencontrá-lo, e se isso nunca acontecer vou apenas deixar um bilhete na porta
dizendo: Quem sair por último desse amor apaga a luz e tranca a porta.
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