“Para a(s) Sofia(s), Rosa(s), Maria(s), Kátia(s)
e Filipa(s) que lêem-me nesse espaço”
“Mor”,
hoje eu te traí. Não houve razão aparente p’ra tal, aliás nunca houve mesmo
motivo algum para um acto tão vergonhoso, confesso com tanta vergonha essa
minha pouca vergonha. Tu tens sido o namorado que qualquer mulher gostaria de
ter – és atencioso e sempre te lembras das datas importantes da nossa relação,
fazes das minhas as tuas prioridades também. És o companheiro que qualquer
mulher anseia ter por perto – estás presente mesmo quando distante devido o teu
trabalho offshore na Chevron. Passeios, flores, doces surpresas, jantares
inesperados, chamadas e mensagens fora de horas fazes sem sacrifício – tu
sempre foste sincero e verdadeiro sobre ti, sobre o teu passado e sobretudo
sobre os teus medos e anseios. Os teus planos futuros sempre passam pelo
bem-estar da nossa relação.
Mas
“Mor” eu te traí – Foi numa dessas festas que não podias acompanhar-me devido a
sua ausência de Luanda por questões profissionais – numa dessas noites badalada
pelas madrugadas na baixa da cidade e eu estava com a Leila, Mila e a Rosema:
deixamo-nos levar pelo clima da discoteca e dos shot’s embriagantes que
tomamos. Nem sei ao certo como pude me descuidar dessa forma, mas descuidei-me
tanto que mal me lembro de como de repente eu já estava aos beijos e amassos na
traseira de um carro com um jovem desconhecido. Naquele momento minha mente
apelava para a razão – não faças isso tu és comprometida –, mas por outro lado era
como se meu corpo e todos os seus órgãos tivessem força própria ao ponto de
atear mais fogo àquele momento fogoso.
Deixei-me envolver pela forma louca de como ele (o jovem) flertava e
beijava-me, de como nossos corpos de tocavam em suspiros rajados de paixão e do
intenso momento de amor e prazer que tivemos ali… E, desde então, sobre aquela
noite não me têm faltado arrependimentos.
Hoje,
cada vez que me tocas, que me ligas e chamas meu nome, “Mor” – todas às
lembranças vil daquele momento de loucura e embriaguez me vêm à tona. Cada
lembrança preenche meu coração de remorsos. Agora sei que arrependimentos e
remorsos não matam, mas também não nos deixam sossegar à mente, nem nos
permitem ter uma noite de sono tranquila sequer. Pelo menos nunca experimentei a morte, mas
tenho provado desse amargo fel que é o remorso e me mata pouco a pouco por
dentro.
A
verdade é que só meu diário conhece as minhas angustias e confissões, ele tem
sido minha companhia nas madrugadas de insónia e lágrimas. É nele que faço meus
desabafos secretos, nele escrevo um futuro mesmo que incerto. É nele que
rascunho a vida – a minha, dos outros e dos que me cercam –, meu diário não
fala, mas sabe ouvir em silêncio às minhas memórias difusas. Meu diário não vê,
mas é como se fosse parte de mim mesmo que vive em mim e conhece-me tão
intimamente como quando me perco no calor dos teus braços meu amor. É ele que
ensinou-me compor para (des)amargurar a vida e continuar vivê-la. E, para o bem
do nosso relacionamento vivo como se nada tivesse acontecido.
Oliveira Prazeres, in
Confissões Que Elas Nunca Fariam
Sem comentários:
Publicar um comentário