“Para a(s) Emilia(s), Adriana(s), Suely(s), Holanda(s)
e Mirian(s) que lêem-me nesse espaço”
Não existem finais felizes. Aquelas histórias com o “e
foram felizes para sempre”, é mera ilusão da Disneylândia. É coisa de contos de
fadas para iludir-nos com alguma esperança. Quando se trata da vida real, real
como ela é, penso em um pintor que com toda sua mestria revela em tela o lado
obscuro da realidade e da vida, ao ponto de paralisar qualquer admirador de
arte.
Ora se a felicidade existe, então não se resume na
quantidade de sorrisos que graciosamente soltamos pela vida – tudo que venho
fazendo ao longo dos anos é sorrir para às pessoas, manter uma compostura de
tamanha elegância, responder com doçura e sorrir. Sempre sorrir! –, isso é o
resultado dos sonhos que minha mãe nunca alcançou. Hoje, ela é daquelas velhas
aeromoças da companhia de aviação que sobrepuja as rugas às custas de cremes e dos
tratamentos de beleza que vive fazendo pelos países por onde passa, é resultado
da sua obsessão por um padrão de beleza que somente existe no seu mundo. Ela
sempre diz que na família o nosso maior tesouro é a beleza com que viemos ao
mundo, fala abertamente de como nascemos para brilhar, seja no palco, passarela
e onde quer que seja. De como devemos reverenciar a beleza e que as pessoas
devem antes de curvar-se a nossa, tal como nos culto a beleza da deusa Afrodite.
Cá em casa é um festim de fotos e álbuns de família que
já vêm de outras gerações. Agora com toda essa modernidade das tecnologias e
internet o que não falta são fotos e mais fotos nas redes sociais. Vídeos, número
de visualizações e compartilhamentos é o cardápio de cada manhã. Já é modo de
vida ter que criar e recriar frase em busca de seguidores e likes, afinal venho
sendo criada para brilhar. Desde cedo fui ensinada a sorrir, a preservar ao
máximo os meus dentes. Esses mal sabem o que encher-se de guloseimas –
tens que ter um sorriso branco Colgate, dizia a mamá. Tens que manter a postura
corporal ereta – insistia vezes sem conta.
Fui treinada a ser uma miss-mercenária não apenas em passarelas, mas
também na vida. Sorrir é meu modo de sobrevivência. Meu único jeito de viver, é
viver os sonhos que já perduram há várias gerações na minha família. Mas os meus
sonhos, esses ainda não aprendi a sonhar!
Sempre pergunto-me por que as pessoas tendem a fazer
fotos sorrindo. Pois fico com a impressão que, tal como eu, elas estão apenas
vivendo falsas sensações de felicidade. Talvez porque sorrir já é
profissionalismo: afinal usa-se um sorriso para fingir, para mentir, apunhalar,
para amar, magoar, para mascarar às verdadeiras intensões da alma humana… o
sorriso é reação automática a vida – é bem nesses momentos costumo parafrasear
a Aline Frazão “somos todos feitos da mesma essência, então se a minha
felicidade não existe, a dos outros deve ser apenas aparência” –, no entanto a
única certeza que tenho mesmo é que nunca hei-de parar de sorrir até achar a
verdadeira felicidade, nem que não seja tão duradoura quanto os contos da
Disney.
Oliveira Prazeres,
in Confissões Que Elas Nunca
Fariam
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