Beatriz queria ser
uma estrela. Não dessas que eu fazia no Point nem no Photoscape. Ela queria
brilhar para além da tela do meu computador... Queria brilhar em
Hollywood.
Sonhava tão alto
que as vezes era difícil alcançá-la. Ela morava com a mãe e três irmãos numa
casa com apenas um quarto e sala. A mãe dormia na cama com o mais novo, os
outros dois dormiam no chão e ela dormia no sofá da sala. Beatriz era a única
menina e a filha mais velha. O pai fugiu quando o mais novo nasceu, não
aguentava a própria vida, imagina mais uma!?
Eu conheci a
Beatriz no super mercado. Ela tinha apenas 17 anos mas precisava trabalhar para
ajudar nas despesas de casa, trabalhava como operadora de caixa. Eu tinha ido comprar
pilhas para uma das minhas engenhocas, ela estava no caixa 7, muito bonita e
sorridente. Beatriz tinha o cabelo afro preto, usava uma crista trançada nas
laterais. Ela validou o produto, eu paguei e ao receber a factura elogiei o
penteado.
Voltei para o
super mercado todos os dias da semana seguinte, comprei um milhão de pilhas,
giletes, lâmpadas e coisas que aposentei na cave lá de casa. Depois de um mês
ganhei coragem e convidei-a para sair. Aceitou em menos tempo que eu demorei
para pedir.
Ela era uma
sonhadora, batalhadora, tão nova e já tinha as ideias formadas. Não deixava que
qualquer um a fizesse de idiota, nem homens cheios de estilo que faziam
promessas para a vida toda. Ela tinha objectivos e sabia bem que métodos
utilizar para alcançá-los. Poucos acreditavam nela e muitos duvidavam da beleza
dos seus sonhos.
― Tu tens que
provar que eles estão errados.
Eu
aconselhava.
― Eu não preciso
provar nada para ninguém. Sei bem quem sou e de onde vim. Não sei ainda para
onde irei, mas isso nem eles sabem... Eles nem fazem ideia!
Beatriz tinha um
brilho diferente, parecia gente de outros tipos, de outros sítios.
― Essa cidade é
muito pequena diante do tamanho dos meus sonhos. Eu nasci para brilhar,
Nando.
Beatriz
frequentava um curso de teatro e sonhava ser actriz, inspirar Woody Allen ou até
mesmo Ryan Murphy, ela também cantava muito bem, podia encantar na
BroadWay.
Quando decidiu ir
embora, passou lá em casa para se despedir, foi apenas com a roupa do corpo, um
saco com os produtos do cabelo e de higiene, e uma pasta com os documentos
pessoais e monólogos que tinha escrito. Sim. Beatriz tinha muitos
talentos.
Seria egoísmo
querer que ela ficasse, o mundo estava a espera dela e ela precisava brilhar. O
sonho dela não estava em nenhum programa de computador que eu pudesse
manipular.
Ela voou, andou
por terras novas, conheceu pessoas como ela, aprendeu línguas e mostrou quem
era. Encantou olhos e fez cair queixos. Pela representação, voz e... Ah, não
posso deixar de mencionar aquela beleza africana!
Hoje, ela aparece
na televisão, já contracenou com o DiCaprio e a Lea Michele. Quase ninguém
acredita quando digo que somos amigos, mas uma coisa aprendi com ela ''Não
preciso provar nada para ninguém''.
Fico feliz sempre
que a vejo numa tela. E tudo o que consigo dizer é:
''Brilha,
Beatriz. Be a star''.
E ela
brilha. Ela é uma estrela.
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